segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Poema Negro



Um poema negro,
Deve ser igual a todos
                    Os outros!
Um poema negro,
Nada mais deve conter
Que não a sua negritude...

Um poema negro
Não precisa, necessariamente,
Estar de preto...

Um poema negro
Não precisa vestir-se de luto!

Não precisa ser revolucionário,
Pois já o é, na cor...

Um poema negro
Não precisa viver de amor;
Pois já o vive,
Na sua essência!

Um poema negro
Nada mais denuncia
Que não a negrice
Da alma, da existência!

Um poema negro
É negro
Por não negar a cor!  

Mas, no fim,
O poema negro,
Não nega a si
E admira a beleza da flor!
 
                 Severino Honorato

2 comentários:

  1. AS MÃOS DE NINA

    Ali elas sempre estiveram presentes no dia a dia, como o riso da criançada a correr pelo quintal. Estas mãos que ora seguravam as agulhas de tricô só trocavam de posição na hora de segurar a agulha de croché.
    Estas mãos criavam como se fossem notas musicais a entrar pelos quatro cantos do salão cantando; no ar deixavam extravasar o riso contido da lembrança da paixão adolescente e riam da idade reforçando a memória do quanto era gostoso e saudável o amor.

    Estas mãos que deixam um brilho adentrar pelas janelas de sua morada, e ter o seu cantinho como se fora o sonhar juvenil esperando pelo príncipe encantado a rouba-la num cavalo alado, e subir para o mundo mágico do pensamento e se apaixonar...

    Estas mãos que demonstravam destreza na escolha das agulhas até na de costurar, muita das vezes tremia segurando a forçada bengala. Esta ferramenta só lembrava os 94 anos bem vividos desta jovem e apaixonada menina.

    Uma comida caprichada, com muito camarão, um paladar aguçado com o sentido voltado pro prazer; e pra que mais se estamos neste mundo apenas para viver. Criar, criar, tecer, desmanchar, mais um ponto, uma laçada e as mãos ali presentes sempre a acompanharem o ritmo quente de sua mente adolescente.

    Lembrara que num corpo miúdo, numa voz aquecida, em um jeito tão especial de ser as mãos falaram durante muito tempo de você e por você, na realidade cantaram e encantaram os nossos olhos com o belo que a víamos a tecer.

    Bastara olhar para os centros das mesas, para os biquinhos dos panos de prato, nos cueiros dos bebes, nos sapatinhos, nos sapatões, nas toalhinhas, em tantos e tantos trabalhos que você fez, bastara olhar e lá estará você, suas mãos.
    Assim como agora lembro com os olhos em rios salinos, deste olhar tão menino e desta risada gostosa. Lembro de ti querida Menina que foi ser abraçada pela nossa querida vovó Nanã ou Santana.

    Que esta amada Senhora lhe receba com rosas, as mesmas que tantas vezes gostou de bordar, e que os anjos em coro cantem para você como fazias ao tecer uma linda colcha de croché, que o manto que veste Maria cheio das flores de alegria seja o tapete mágico a levá-la para junto do Pai.

    Que sejas recebidas por mãos tão conhecidas que estão lá no Orum a preparar o nossa estadia.

    Menina , Nina, construa mesmo estando longe de nós, construa sempre pois em nossa mente ficara a lembrança da sua eterna risada, a esperança enamorada e o gosto apurado nas escolhas das linhas que compõem a beleza da vida, na construção do saber bem viver.

    Vá em paz Nina querida! Que as mãos do criador a acolham neste novo lar neste novo amanhecer que as suas mãos agora juntas possam segurar a mão da eterna idade.

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